O DIA EM QUE A TANICA CHEGOU A CASA
Já contei esta história mas adoro e vou repetir. Que se lixe.
Depois de ter vindo cá jantar naquele dia, meses antes, sabíamos os três que ela tinha de vir para casa e que era nossa. Não há grande razão para explicar, mas só por si a coisa fazia sentido. Tal como não avisamos ninguém antes de “fabricar” um filho, não avisamos ninguém até decidirmos com ela que ia ser assim.
Tivemos medo que ela não quisesse, mas família que ainda não existia já estava toda lá e o sim dela foi tão rápido como a nossa vontade.
Passou o Natal ainda fora, depois o Zé esteve no hospital com uma bronquiolite, andámos a fazer pistas e, finalmente, quando chegámos à meta marcámos a mudança para um dia ou dois depois.
Tirei a tarde sobre o pretexto de que estava enjoada e estava mesmo. Não imaginava o trabalho que tinha pela frente, mas num misto de excitação e nervosismo vim para casa em “trabalho de parto”. A loucura tomou conta de mim e sendo que não tinha nada de novo no quarto decidi pintar tudo de branco para ficar limpinho. Pé a fundo para a drogaria e pedi a tinta que secasse mais rápido. Voltei com baldes e pincéis para a empreitada: tinha a cama que a Rita do trabalho logo que soube me deu, o armário de costuras da minha avó e as coisas que rapei pela casa para compor o quarto. Quarto esse que era, até ali, arrumos de tudo e uma árvore de Natal. Pinta, pinta, pinta e não desiste. Cama, armário e no meio da empreitada apareceu a minha Rafa que soube que estava em afazeres e quis ajudar. Quando a Tanica chegou estávamos as duas de pantanas a orientar o quarto. O Zé Duarte tinha meses e por isso a liberdade da licença.
Foi o Francisco, irmão da Niini, que a trouxe. Tinha poucos sacos, uma guitarra e raquetes de tênis. Vinha contente e acho que contente por ver que lhe estava a montar uma coisa só dela.
O Joka chegou mais cedo do trabalho e abraçou aquilo tudo. Jantámos à mesa como o sonho que começou ali meses antes.
Apesar do meu optimismo, era óbvio que a tinta não ia secar a tempo, mas a vida que acontece fora dos planos tantas vezes é melhor e assim dormiram melhor todos juntos. Apertadinhos mas juntos. Foi assim nos dias seguintes, e sempre que há trovoada ou saudades ainda é.
Hoje temos mais um Xavier, uma Belém e a casa teve de ser aumentada. Mas foi por esta altura o meu parto da Tanica e gosto de lembrar a confusão boa desse dia.
Foi há 4 anos mas parece que foi há 20. Estranho não ser. Hoje não há dúvidas, não podia ser de outra maneira. Mesmo com os raspanetes que tenho às vezes de dar e me custam claramente mais a mim.
Na foto a nino, amiga da casa a quem tenho que agradecer ter tomado conta da minha Tanica aquelas semanas antes.
Rosa Amado
http://amadosrock.blogspot.com/2018/01/dia-em-que-tanica-chegou-casa.html