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Candeia apoia dezenas de crianças num contexto de natureza

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Convite do Jornal solidário “Abrigo” para entrevista sobre a Candeia.

Entrevista ao nosso presidente, Miguel Simões Correia, conduzida por José Vieira, diretor do jornal.

Sobre a missão da Candeia; o seu crescimento no número de atividades e resposta às necessidades das crianças e jovens; a importância dos campos de férias na natureza; os Amigos p’ra Vida e os Amigos especiais.

Vídeo da entrevista disponível no link: https://www.abrigo.info/2023/06/12/candeia-apoia-dezenas-de-criancas-num-contexto-de-natureza/

 

Os direitos de uma minoria silenciosa

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Apesar de uma grande evolução, ignora-se frequentemente a vontade das crianças coma  desculpa de que não sabem o que é melhor para elas, mesmo quando chegam à adolescência.

Hoje, no Dia da Criança, devemos recordar e trazer para o debate público uma forma de discriminação tão antiga quanto discreta: a discriminação das crianças e jovens.

O estatuto da criança enquanto sujeito de Direito conheceu uma evolução que me parece ter sido bastante orgânica, mas muitíssimo lenta. Não sendo o propósito alongar-me sobre uma análise histórica da questão, convém recordar que as crianças eram inicialmente propriedade do pater familias, que dispunha até do direito a decidir sobre a vida das mesmas. Um longo e paulatino caminho é feito durante a Idade Média em que os sentimentos ligados à infância começam a surgir – veja-se a obra de Philippe Ariès (L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime, 1973) – sendo que o conceito de criança só se autonomiza do de (mini) adulto, mais recentemente.

A partir do século XVII, parece-me que o conceito de criança foi muito moldado pelo liberalismo e neoliberalismo. O liberalismo exclui as crianças e jovens do pacto social bem como de toda a organização social: Locke, por exemplo, entende que a exclusão das crianças se deve ao facto de estarem “fora do domínio da lei da razão” (Second Treatise of Government, 1690).  De facto, além de facilitar a fundamentação do contratualismo, a exclusão das crianças enquanto sujeitos é consequência da separação entre privado e público. Entendendo o privado como um espaço de liberdade, poucas são as restrições impostas no seio da família ao poder paternal: tal constituiria certamente uma ingerência abusiva por parte do Estado (seja como legislador, seja como Administração).

Atualmente, muitos avanços foram feitos, nomeadamente no plano jurídico internacional. A inovadora Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989), adotada pela ONU, veio propor uma alteração de paradigma, pondo o foco na criança e reconhecendo-a como sujeito e titular de um extenso catálogo de direitos. Esta Convenção inspirou a produção de legislação em vários países: veja-se o caso de Portugal, em que foi adotada a Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei 147º/99).

Está, pois, claro que um grande caminho foi feito. Porém, ao contrário da maioria das conquistas sociais em que os avanços decorrem da mobilização da população discriminada, no caso das crianças, por razões evidentes, só existem avanços quando os adultos assim o determinam. Mas estará o estatuto desta minoria silenciosa consolidado de forma a responder às suas necessidades?

A nível social, se é verdade que há, hoje, muito mais sensibilidade para a discriminação enquanto fenómeno sistémico que afeta pessoas em função do seu sexo, orientação sexual, etnia, religião, também é claro que o fenómeno de discriminação das crianças é bastante ausente das habituais discussões relativas a conquistas sociais. Note-se, também, a ausência da referência à idade enquanto categoria sobre a qual poderia recair uma suspeita de discriminação, mesmo ao nível da nossa Constituição: no artigo 13º/2, a idade não faz parte do catálogo de categorias em função das quais comummente são cometidas violações do princípio da igualdade. Veja-se que mesmo quando se fala de discriminações em função da idade é frequente falar-se da discriminação de idosos (fenómeno que também nos deve preocupar) mas não de crianças e jovens. Quer este silêncio dizer que a discriminação das crianças e jovens deixou de ser um problema?

É difícil falar de discriminação das crianças porque existe um critério objetivo que determina que estas gozem de menos direitos: com uma menor maturidade, têm, também, uma menor capacidade para exercer os seus direitos. Porém, essa diferença, que justifica, efetivamente, uma distinção no tratamento da criança face ao do adulto, não pode justificar toda e qualquer distinção nesse tratamento.

Parece-me que o fenómeno de discriminação das crianças tem um impacto mitigado no que toca à legislação, mas faz-se sentir intensamente nas práticas sociais que continuam a ser adotadas e validadas. Apesar de uma grande evolução, ignora-se frequentemente a vontade das crianças com a desculpa de que não sabem o que é melhor para elas, mesmo quando chegam à adolescência. Aceitam-se comportamentos perfeitamente humilhantes ou degradantes no âmbito da educação, comparando-se alunos ou expondo aqueles que têm um pior desempenho escolar. Descredibiliza-se crianças que relatam situações de abuso pelas quais passaram, com o argumento de estão a inventar ou de que interpretaram mal um certo comportamento ou gesto. Ouve-se frequentemente apologias ao cometimento de ofensas à integridade física contra crianças, afirmando-se, por exemplo, que a ausência de violência (vulgo “falta de estalo”) leva à má-educação.

Todos estes exemplos são referentes a uma sociedade – a nossa – em que a cultura do Cuidado está, ainda, por construir. Não falta tudo e muitos passos têm sido dados, mas não tratamos, ainda, as crianças com todo o respeito que lhes é devido, continuando a discriminá-las, permitindo que haja atitudes para com elas que chegamos até a criminalizar quando referentes aos adultos. E tudo isto, não porque têm menos maturidade ou competência, mas apenas porque têm menos idade.

Construamos, então, comunidades cada vez mais seguras e acolhedoras, onde as crianças e jovens possam ser cuidadas e bem tratadas, sem terem de esperar pela maioridade para que assim seja.

Texto escrito por Miguel Simões Correia

A invisibilidade do acolhimento familiar

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Crianças que crescem em ambientes familiares estruturados e seguros tendem a desenvolver uma autoestima mais positiva e competências pessoais e sociais mais equilibradas.

 

Sabemos que é no seio de uma família que nascem os seres humanos, e que esta desempenha um papel fundamental na formação da nossa identidade e personalidade até à idade adulta.

Sabemos que é a família que ampara, cura o arranhão do joelho, ensina a andar de bicicleta, a soletrar o bê-à-bá das primeiras letras da escola e ajuda a lidar com a angústia das borbulhas de acne, na adolescência.

Sabemos, de acordo com a investigação científica, que a qualidade das relações familiares condiciona o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, com especial relevo nos primeiros anos de vida. E que, crianças que crescem em ambientes familiares estruturados e seguros tendem a desenvolver uma autoestima mais positiva e competências pessoais e sociais mais equilibradas.

Sabemos, também, que a legislação portuguesa considera o acolhimento familiar como uma medida de aplicação privilegiada face ao acolhimento residencial, especialmente para crianças até aos 6 anos de idade, quando estas não podem viver com a sua família biológica.

Sabemos tudo isto, porém continuamos a assistir à colocação de bebés e de crianças pequenas em instituições, pese embora estejam amplamente descritos as desvantagens e os danos no desenvolvimento psicoemocional das crianças que permanecem em cuidados coletivos.

Sabemos tudo isto, mas, em Portugal continua uma cortina, qual manto do Harry Potter, mantendo a invisibilidade do acolhimento familiar, enquanto as crianças institucionalizadas tentam travar o relógio da infância que teima em não esperar pela reorganização dos adultos. Não, a infância não espera. A invisibilidade do acolhimento familiar persiste, apesar de todas as evidências científicas indicarem os benefícios incontestáveis desta medida protetiva no bem-estar das crianças.

A invisibilidade do acolhimento familiar permanece, mesmo que o enquadramento legal aponte claramente o caminho e as políticas sociais pareçam alinhadas com os fundamentos internacionais da proteção à infância, que privilegiam o acolhimento familiar.

A invisibilidade do acolhimento familiar perdura, face à inexistência de campanhas de divulgação e de iniciativas promotoras da disseminação do acolhimento familiar, o que resulta num continuo e incipiente número de crianças em famílias. Atualmente, não chegam a duas centenas.

A invisibilidade do acolhimento familiar impõe, por tudo isto, um efetivo investimento num plano de transição que defina princípios, objetivos e diretrizes potenciadores do acolhimento familiar a nível nacional, com o envolvimento das várias áreas do conhecimento e intervenção.

A invisibilidade do acolhimento familiar exige um comprometimento na capacitação e reconhecimento das famílias acolhedoras que de modo solidário estão dispostas a abraçar uma criança, num claro contributo para a sua trajetória desenvolvimental.

A invisibilidade do acolhimento familiar reclama pelo empenho da comunidade em prol da defesa do direito de uma criança crescer numa família, para que possamos devolver-lhes a infância e cuidá-las num ambiente de compreensão, amor e felicidade. Precisamos de mais famílias de acolhimento.

 

AUTORA: CELINA CLÁUDIO (12/05)

 

Acolhe em ti esta história

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Novo projeto criado pela Candeia, com o objetivo de partilhar histórias contadas por crianças e jovens que vivem o Acolhimento. Criámos uma página de Instagram que partilha estas histórias, procurando sensibilizar e dar a conhecer aos nossos seguidores a realidade do Acolhimento.

https://www.instagram.com/acolheemti___/

 

Ajuda de berço: casa de acolhimento é uma “aldeia” em Benfica

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Das 6369 crianças e jovens em casas ou famílias de acolhimento em Portugal, 1299 são de Lisboa e a maioria encontra-se em casas de acolhimento, como as da Ajuda de Berço. Apesar de existir uma densa rede de apoio para a proteção das crianças e jovens, os problemas, como a negligência e a pobreza financeira, mantém-se cíclicos e estruturais.

Na Rua Jorge Barradas, em Benfica, encontram-se 35 crianças na casa de acolhimento da Ajuda de Berço. Apesar da tinta fresca na nova casa da associação de solidariedade, os problemas que levam a que acolham crianças são os de sempre.

“Em Lisboa, o acolhimento de crianças e jovens é cíclico. Em 30 anos de carreira, tendo passado por mim 420 crianças, já encontro familiares de familiares, porque nunca se muda estruturalmente os problemas das famílias”, diz Sandra Anastácio, fundadora e presidente da Ajuda de Berço.

A associação lisboeta foi fundada em 1998, na Casa da Cabrinha, em Alcântara, enquanto alternativa para bebés indesejados pelos pais, no âmbito da discussão da despenalização do aborto. Para Anastácio, “o que a Ajuda de Berço preconiza é a defesa da vida em todas as suas frentes”.

Apesar de, para Sandra Anastácio, a despenalização da interrupção voluntária da gravidez não ter sido um “passo em frente”, a presidente da Ajuda de Berço acredita que os “direitos das crianças, a forma como se olha para a infância e para as grávidas e a exigência sobre as instituições de acolhimento aumentaram e evoluíram bastante”.

No entanto, em Lisboa continua a ser necessário apoiar crianças e jovens sem família ou com famílias desestruturadas.

Das 35 crianças na Ajuda de Berço, 86% foram acolhidas por negligência, 11% por abandono e 3% por consentimento para adoção. A instituição lisboeta recebe maioritariamente crianças e jovens provenientes dos concelhos da Amadora e de Sintra, onde se refletem com maior frequência os fatores da negligência.

“Os problemas das famílias são muito grandes em Lisboa e a maior parte dos que vêm parar à Ajuda de Berço prendem-se com pobreza”, diz a presidente da associação, enquanto há 20 anos, as causas incidiam mais nas gravidezes não desejadas e na toxicodepedência.

Segundo Cátia Marques, psicóloga de 42 anos, membro da equipa técnica da Ajuda de Berço desde a sua fundação, o problema vem de trás, “famílias já são elas próprias carenciadas”, os próprios pais foram crianças institucionalizadas ou já acompanhadas. Nesse sentido, são “ciclos difíceis de quebrar e já muito inseridos nestes núcleos familiares”.

A “aldeia” erguida em Benfica

O Estado, através das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, em articulação com os Tribunais de Família e Menores e a Segurança Social, tem duas medidas de colocação quando uma criança é retirada da família: o acolhimento residencial, numa instituição, ou o familiar, recorrendo a uma família de acolhimento.

A Ajuda de Berço é uma destas instituições de acolhimento e procura fornecer um ambiente familiar e estável à criança ou jovem. Foi para melhor cumprir esta missão que a associação lutou pela construção de uma nova casa em Benfica, com melhores condições e uma localização que permite uma maior integração e a criação de um espírito de bairro.

Com 68 trabalhadores, entre eles três psicólogos, três assistentes sociais e um cuidador para cada cinco crianças, a Ajuda de Berço tenta dar às crianças e jovens que acolhe uma experiência familiar e de comunidade, algo que era dificultado pela localização da casa na Quinta da Cabrinha, em Alcântara.

“Quando estas crianças têm um acolhimento muito prolongado não sabem o que é um supermercado, por exemplo”, conta Anastácio que, nos primeiros anos da associação, incorreu no erro de não criar certos hábitos do dia a dia com as crianças e jovens. Mas a partir do dia em que levou uma das crianças a um hipermercado e se apercebeu que ela se sentia “noutro planeta”, passou a dar prioridade a um certo sentimento bairrista, algo possibilitado, agora, pela localização da casa em Benfica.

Para Sandra Anastácio é importante que eles possam ir para a escola a pé, ir ao café e não perder o contacto com “o mundo lá fora”.

“Desde pequeninos que trabalhamos a autonomia, há coisas que têm de ser feitas desde sempre, como conseguir fazer tarefas na casa, perceber o valor do dinheiro e das coisas através de certas atividades”, descreve Cátia. Algo que poderá parecer “simples” e que acontece com “naturalidade” em família, mas que uma instituição, como a Ajuda de Berço, tem de ser pensado, programado e articulado.

Trabalhar para ver as crianças e jovens partir

“Cada criança que entra aqui é um indivíduo de direitos, sendo o primeiro o direito a uma família”, esclarece Sandra Anastácio, salvaguardando que a prioridade da instituição é sempre “que a criança que entra volte a ter uma família”, de preferência, a família biológica, depois de reestruturada e ajudada.

Durante o processo de reabilitação da família, um trabalho articulado com as casas de acolhimento e a Segurança Social, o objetivo da Ajuda de Berço é fornecer a todas as crianças estabilidade afetiva.

Para Cátia Marques, “não existe nenhuma criança igual” e, por isso, não existe um método de trabalho a seguir, sendo o mais importante a disponibilidade afetiva que cada cuidador e membro da instituição tem. O mais importante para o desenvolvimento das crianças é que exista uma “figura de referência para ouvir, estar, observar e perceber as necessidades delas”.

Todo este processo pode ser demorado e, muitas vezes, o acolhimento residencial acaba por não ser tão provisório assim. “O acolhimento pode ser longo, mas tem de se disponibilizar os recursos, as pessoas e tempo para estas famílias se reestruturarem”, senão não existe consistência e mudanças estruturais, como explica Cátia, que lembra o velho adágio: “é preciso uma aldeia para cuidar de uma criança”.

A presidente da Ajuda de Berço ressalva, no entanto, a importância de não laborar no equívoco de que a associação é a família. “A instituição pode ser um lugar familiar onde as crianças encontram afeto e cuidados”, mas não substitui a família. “Todos os que trabalham nesta área, trabalham para ver as crianças e os jovens partir”, diz Sandra Anastácio.

Amigos para a vida

A criação de estabilidade não passa apenas pelas instituições, mas também por associações como a Candeia, que complementam o trabalho das casas de acolhimento. A associação, fundada há 31 anos, começou por ser um grupo familiar e pequeno que dava apoio às casas de acolhimento em termos de atividades lúdicas, como campos de férias. Hoje, já conta com 30 casas com as quais trabalha e mais de 200 crianças e jovens inscritos que participam e interagem semanalmente.

“Há uma instabilidade na rutura, na separação da família biológica, mas também na mudança de zona de habitação e de escola, consequentemente de amigos”, explica Miguel Simões Correia, presidente da associação Candeia e jurista.

A rotatividade dos cuidadores das casas de acolhimento, que devido aos salários baixos e vínculos laborais muitas vezes precários, mudam de emprego constantemente, e a das próprias crianças ou jovens que coabitam na instituição e também vão saindo e entrando, concorrem para um cenário “descontínuo e pouco equilibrado”.

Para colmatar essa falha, a Candeia trabalha voluntariamente de forma intercalada com as instituições de acolhimento, tendo atividades todos os domingos, para três escalões de idade. Depois, com algumas casas, vão desenvolvendo e descobrindo o que lhes faz falta, numa fazendo entretenimento à quarta-feira depois do jantar, noutra dando explicações às crianças e jovens, noutra jantando com as crianças com alguma regularidade.

No entanto, Miguel acha este trabalho insuficiente para o crescimento e desenvolvimento emocional da criança ou jovem, dado que “é preferível crescer num ambiente familiar, porque o residencial, por muito boa que seja a instituição, não oferece oportunidade de crescer em família”.

“Na lei de 1999 de proteção de crianças e jovens em perigo determina-se que, sendo possível, prevaleça sempre o acolhimento familiar sobre o residencial, porque tem mais vantagens para a criança”, explica Miguel.

No entanto, em Portugal, o acolhimento familiar é residual, representando apenas 3% dos acolhimentos. Esta situação poderá ter explicações nas dificuldades sócio-económicas do país, mas, segundo Miguel, não deixa de ser “impressionante”, tendo em conta que a média europeia dos acolhimentos familiares ascende aos 60%.

Porém, privilegiar o acolhimento familiar poderá não ser assim tão simples, segundo Cátia Marques, uma vez que “tem de se ter sempre em consideração as características da criança e da família”.

“Quando se pensa em retirar uma criança a uma família, mesmo que seja com consentimento, é preciso percorrer um caminho e é difícil colocar as coisas assim de forma tão binária”, explica a psicóloga. O ideal é “perceber que existem fatores que permitem que o acolhimento familiar traga tudo de bom à criança, ao mesmo tempo que se trabalha com a família biológica”. No entanto, também poderão existir “muitos fatores que indicam que o acolhimento familiar não é o indicado para a criança”.

A associação Candeia apresenta também uma pequena solução para este grande problema: os Amigos P’ra Vida, uma iniciativa com uma equipa técnica, incluindo uma psicóloga e uma assistente social, que decorre em paralelo com as atividades que desenvolvem com as casas de acolhimento.

“A associação tenta encontrar famílias para acompanhar uma criança que está no acolhimento residencial e, muitas vezes, são crianças a quem o Estado já não consegue dar soluções”, nomeadamente os mais velhos, explica Miguel.

“Na Candeia trabalhamos para que todas as crianças possam ter uma referência familiar. Há famílias que são uma solução permanente, com o apadrinhamento, mas às vezes funcionam só como tios da criança, levam-na a passear no fim de semana, celebram os anos, natal e outras datas importantes”, esclarece Miguel, que conclui que o importante é que se encontre figuras de referência para estes miúdos.

Se tudo isto falhar, desde o acolhimento familiar ao apadrinhamento, a associação Candeia fornece uma última alternativa para conferir estabilidade e o sentimento de pertença familiar às crianças e jovens das instituições de Lisboa: o Amigo Especial.

Neste caso, atribuem um jovem animador voluntário a uma criança que, estando, por exemplo, num processo de reintegração familiar, que é o mais comum, vai ser sempre acompanhado por alguém, mesmo depois de sair da instituição, para o ajudar em tarefas que a família não é capaz de garantir, tão simples quanto levá-la a um treino ou jogo de futebol.

Somos família de acolhimento

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Quem somos?

A nossa família: Eu, Maria, tenho 44 anos e sou Médica Veterinária. O Miguel tem 37 anos, é gestor e trabalha na área da banca. Somos casados há quase treze anos e temos três filhos: a Francisca (10 anos), o Vasco (9 anos) e o António (6 anos).

A nossa história como Família de Acolhimento

Eu e o Miguel conhecemo-nos enquanto voluntários da Candeia, uma Associação que tem como missão dar apoio a crianças e jovens que vivem ou viveram em casas de acolhimento.

Assim, a nossa família cresceu com esta ligação, desde sempre, à realidade e necessidades de crianças institucionalizadas e sempre foi um assunto que nos tocou – como é que podemos, enquanto família, fazer a diferença nestas vidas tão frágeis?

Já depois de casados e com filhos, a Candeia criou o projeto Amigos pra Vida (ApV), que tem como missão encontrar, para cada criança ou jovem que vive em contexto de acolhimento residencial, uma família amiga voluntária. Através dos ApV, fomos sendo sensibilizados sobre as várias formas de, enquanto família, nos fazermos presentes nas vidas destes miúdos. O que nos tocou mais, foi ficar a conhecer a realidade do acolhimento residencial em Portugal. Há muitas crianças em acolhimento residencial (casas de acolhimento) e muito poucas em acolhimento familiar. Idealmente, enquanto uma criança ou um jovem espera que o sistema defina ou organize o seu projeto de vida, devia ter a possibilidade de poder viver e experienciar o acolhimento numa família que cuide dela, a mime e a proteja durante esse período tão difícil da sua vida. Muitos estudos evidenciam que o acolhimento familiar promove a criação de relações e vínculos afetivos estáveis e próximos com adultos de referência, favorecendo e fortalecendo o seu desenvolvimento emocional futuro, de forma saudável. Sabe-se que, em particular, os primeiros anos da vida de uma criança são extremamente importantes e críticos para o seu desenvolvimento emocional e têm impacto na sua atividade cerebral. No entanto, infelizmente, ainda hoje, em Portugal, a principal medida de colocação de uma criança ou de um jovem em perigo ainda é o acolhimento residencial (casa de acolhimento) – onde são bem muito tratados, mas onde não conseguem mimetizar tudo o que um ambiente familiar pode dar. Para além disso, estes miúdos muitas vezes esperam muito tempo (demais) até regressar à sua família biológica, ou até serem adotadas ou, quando são mais velhas, até se terem autonomia.

Assim, após muita reflexão, decidimos que a nossa família tinha tudo para ser Família de Acolhimento.

No final de 2019, contactámos a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (entidade que, na zona de Lisboa, seleciona e coordena as Famílias de Acolhimento) e iniciámos um rigoroso e muito responsável processo de seleção, que terminou em 2020. Em família, tendo em conta os benefícios do acolhimento familiar, a nossa dinâmica e estrutura de apoio, mostrámo-nos disponíveis para acolher bebés pequeninos. Acolhemos o primeiro bebé, tinha ele 2 meses. Estava acolhido numa instituição. Para além do que já sabíamos que ele podia beneficiar ao ser recebido na nossa família, tinha-lhe sido diagnosticada uma situação de saúde em que o médico considerou que aquele bebé podia beneficiar muito se estivesse em contexto familiar. E foi com estes “apelos” e com imenso amor e emoção que o recebemos. Viveu connosco 4 meses, até ir para a sua família (adotiva). Quando foi, o tal problema de saúde estava totalmente resolvido. Apesar de ter sido um período bastante exigente, foi com imensa ternura e amor que o vimos partir para a sua família. Até hoje, ainda mantemos o contacto com ele e é com uma alegria imensa que o vemos crescer, tendo feito parte da sua história de vida.

Neste momento temos ao nosso cuidado, desde que nasceu, um bebé de sete meses e ainda sem projeto de vida definido. Ser família de acolhimento pressupõe acolher sem se saber por quanto tempo. É assim… a data limite do acolhimento familiar é “até aquela criança precisar”.

Tem sido uma experiência maravilhosa poder fazer parte das vidas destes miúdos que não começaram bem e não tiveram a sorte da família biológica poder cuidar deles (algumas vezes temporariamente, noutros casos para sempre). Dar amor, carinho, estabilidade, confiança e alegria é o que nos pedem. Sem esperar nada em troca e sem saber até quando. Enquanto estão connosco, e sabendo desde sempre que não é para sempre, são tratados como filhos – desde o dia em que chegam e até precisarem. Enquanto vivem connosco, eu faço o papel de mãe, o Miguel de pai e os nossos filhos de irmãos, e todos se adoram. Só sabemos fazer assim. Com um amor imenso por cada um, como se fossem nossos, mas com a certeza de que vão, um dia, partir para as famílias que os esperam. E quando esse dia chega, a nossa missão está cumprida.

Solidariedade: crianças em situação de fragilidade estão no coração da associação Candeia

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Lisboa, 28 nov 2022 (Ecclesia) – A Associação ‘Candeia’ e o projeto ‘Amigos p’ra Vida’, ligado a esta Instituição Particular de Solidariedade Social, assumem o objetivo de dar uma “atenção especial” às crianças em situações de fragilidade familiar.

“O projeto ‘Amigos p’ra Vida’ foi pensado para encontrar famílias voluntárias que possam dar e ir ao encontro das necessidades das crianças que só uma família sabe dar”, disse à Agência ECCLESIA Maria Gaivão, coordenadora desta iniciativa.

Estes dois projetos que se relacionam estão apostados “em proteger e promover crianças e jovens”, pistas concretas para “ajudar, acolher e acompanhar em respostas a situações de fragilidade familiar ou social”.

Segundo Miguel Simões Correia, presidente da direção da Associação ‘Candeia’, todas as crianças que estão na instituição “foram retiradas à sua família biológica por muitos motivos, sendo o principal a negligência parental”.

No período em que estão em acolhimento, a ‘Candeia’ trata de “ser uma mão e um ombro amigo para as crianças e jovens”, sublinhou, em entrevista ao Programa ECCLESIA, emitido esta segunda-feira na RTP2.

A Associação ‘Candeia’ e o Projeto ‘Amigos p’ra Vida’ constroem relações com as crianças que estão em acolhimento residencial, protegem e são ajuda na sua vida e das famílias.

“As casas de acolhimento funcionam muito bem, retiram estas crianças do perigo e dão-lhes estabilidade e rotinas boas, mas também sabemos que é necessário um olhar especial”, sublinhou Maria Gaivão que também tem a experinêcia de família de acolhimento.

O projeto ‘Amigos p’ra Vida’ é uma equipa “ainda pequenina e em crescimento” que tem por objetivo angariar famílias, procura-las, selecioná-las com muita responsabilidade sempre em coordenação com as casas de acolhimento porque são elas que sinalizam as crianças e identificam aquelas que têm mesmo necessidade e podem beneficiar de um amigo especial”.

“É uma margem da nossa sociedade que é muitas vezes esquecida e pouco protegida, são crianças que crescem sem aquilo que é elementar, sem um enquadramento familiar estável e real”, disse o presidente da direção da ‘Candeia’.

“Isto de ser ‘Candeia’ desperta o coração para muitas necessidades que os miúdos têm”, frisou Maria Gaivão.

Miguel Simões Correia, com 22 anos de idade, cresceu neste ambiente,  já que os pais são dos fundadores da ‘Candeia – Associação para a animação de crianças e jovens’, afirmando que esta é uma área que “tem poucos recursos e pouca atenção”.

Uma criança quando “está em risco” deve ser tomada alguma medida, “mas isto é uma realidade muito desconhecida do grande público”, realçou, por sua vez, Maria Gaivão.

 

Entrevista completa em: https://agencia.ecclesia.pt/portal/solidariedade-criancas-em-situacao-de-fragilidade-estao-no-coracao-da-associacao-candeia-c-video/

“Todas as crianças têm o direito a ser e a sentir-se incondicionalmente amadas”

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Para um cristão inspirado por Jesus, no modo como vai ao encontro do outro e das suas fragilidades, proteger e cuidar de uma criança é tão simplesmente amá-la incondicionalmente, Parece tão simples. mas é o maior desafio das nossas vidas. 

Hoje é dia da criança. Recordo a Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989 e ratificada por Portugal em 21 de setembro de 1990, e alegro-me pelos passos importantes que foram dados até hoje no reconhecimento de direitos das crianças que hoje sentimos como elementares, mas que não o eram há muito pouco tempo. Mas, apesar de satisfeita pelo caminho percorrido, não consigo deixar de me inquietar com tanto o que falta fazer.

É urgente continuar a gerar conhecimento sobre as causas dos abusos de poder, em todas as suas formas, pois só conhecendo as causas podemos agir sobre elas, cuidar de quem abusa e prevenir novos abusos.

É urgente continuar a sensibilizar para o impacto dos maus tratos e dos abusos nas crianças e jovens que deles sofrem por parte daqueles em quem deveriam poder confiar, seja no seio familiar, seja noutros contextos que deveriam ser seguros.

É urgente acabar com a postura de indiferença. Todos somos poucos no momento de cuidar e de proteger a criança que está a sofrer. Nem todos somos como o Bom Samaritano que se ocupa da criança sofrida, mas não devemos passar ao lado, ignorando, desprezando ou negando o sofrimento do outro. É urgente agir.

É urgente acabar com a postura de indiferença. Todos somos poucos no momento de cuidar e de proteger a criança que está a sofrer. Nem todos somos como o Bom Samaritano que se ocupa da criança sofrida, mas não devemos passar ao lado, ignorando, desprezando ou negando  sofrimento do outro.

Os nossos gestos, as nossas atitudes, as nossas palavras, vão ao encontro das crianças e jovens que nos são entregues para cuidar, proteger e amar? As crianças que são colocadas na nossa vida vivem, através da relação connosco, a experiência de ser cuidado, de ser protegido, de ser respeitado, de ser escutado, de se sentir reconhecido? Sentem-se amadas? Sentem-se incondicionalmente amadas?

Para um cristão, inspirado por Jesus no modo como vai ao encontro do outro e das suas fragilidades e vulnerabilidades, proteger e cuidar de uma criança é tão simplesmente amá-la incondicionalmente. Parece tão simples a fórmula, mas é o maior desafio que temos na nossa vida enquanto pais e educadores.

Como qualquer desafio, precisamos de um plano. O primeiro passo é reconhecer que nem sempre agimos bem. Depois, acreditar que podemos fazer mais e melhor. Por fim, querer fazer melhor. E depois é exercitar a arte de Bem Cuidar todos os dias, com persistência.

E, como que por “magia”, começa a brotar vida da vida das nossas crianças, pois a partir desta experiência de amor, a criança conseguirá cuidar da relação consigo, da relação com os outros, da relação com o meio e da relação com Deus.

Pudesse eu reescrever a Convenção sobre o Direito das Crianças e começaria assim: “Todas as crianças têm o direito a ser e a sentir-se incondicionalmente amadas”.

Natal: «Estamos muito gratos ao Dimas» – Maria Dantas

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Família Dantas acolhe o jovem de 27 anos que vive numa instituição e faz exercitar a «capacidade de amar» no ambiente familiar 

Foto: Agência ECCLESIA/SN

Lisboa, 24 dez 2022 (Ecclesia) – Maria e João Dantas acolhem o Dimas, um jovem de 27 anos que vive numa instituição e, como contaram à Agência ECCLESIA, a sua presença faz exercitar a “capacidade de amar” e “tornar o coração maior”.

“Se isto da capacidade de amar for um músculo que se trabalha, não tenho dúvidas nenhumas que, para os meus filhos, a presença do Dimas é um desses exercícios, torna o coração maior e só por isso estamos muito gratos ao Dimas”, afirma Maria Dantas, em declarações à Agência ECCLESIA.

Maria e João conheceram-se nos campos de férias promovidos pela Candeia, uma Associação para a animação de crianças e jovens que vivem em instituições.

“As primeiras lembranças que tenho do Dimas, ele tinha cerca de sete anos, a minha memória é de o ver a jogar futebol, muito ágil com a bola, muito esguio, com personalidade muito forte e era dos mais exigentes”, recorda Maria.

Já João chegou mais tarde a animar campos de férias da Candeia, onde conheceu o Dimas.

“No início foi uma relação conflituosa mas com o amor conseguimos dar-lhe a volta e ficámos amigos”, lembra João.

Maria e João Dantas casaram e a vida foi mudando, mas o Dimas permaneceu.

“Um dia uma amiga minha que trabalha na “Quinta Essência”, instituição onde vive o Dimas, ligou-me e disse-me que o Dimas estava com muitas saudades e se eu o poderia visitar”, conta o pai de três filhos.

Depois desta visita, seguiram-se tardes passadas em casa do casal e, naturalmente, o Dimas começou a ser presença aos fins-de-semana, nos aniversários e nas celebrações.

“O Dimas assiste a esta coisa de sermos uma família normal, temos os nossos momentos de alegria e ele faz parte dessa dinâmica, acolhemo-lo, recebemos sem capas, sem filtros, eu acho que é essa normalidade que ele também gosta e o faz estar connosco, gostava que fosse mais tempo mas é o que é, e vivemos bem com isso”.

A família foi aumentando e os filhos Carlota, Manuel e Amélia veem no Dimas um “amigo e protetor”, aliado nas brincadeiras e nos momentos de música.

Em tempo de Natal, a família ruma às origens e passa uns dias na casa de familiares; o Dimas, de 1,90 metros de altura e sorriso fácil, acompanha e integra-se nas dinâmicas da família.

“O Dimas é fácil de agradar… Uma dinâmica que o Dimas gosta é que traz a casa às costas e temos de regrar a quantidade de roupa que traz, ele leva a mala maior que nós todos juntos”, conta o casal, entre risos.

O casal, que faz parte do projeto “Amigos Pra vida”, sente que tem de estar agradecidos ao Dimas e só podem deixar o apelo para que mais famílias possam acolher.

“Se podemos passar alguma mensagem que incentive a este acolhimento é desafiar outras famílias que possam acolher, na medida do que podem, sem avaliação, é o que é possível”, conclui o pai de família.

A entrevista integra o programa 70×7 este domingo, 25 de dezembro, na RTP 2 pelas 15h30, ficando depois disponível online.